sábado, outubro 29, 2005
8 de 10
O homem não é desde algum tempo (vários séculos) apenas o que consegue ver à sua frente.
A nossa capacidade de nos situarmos em novas fronteiras de espaço a partir do nosso frágil corpo humano, foi aumentando exponencialmente. Ironicamente, ainda nos conseguimos maravilhar numa viagem de barco, de avião quando percebemos a simples questão de escala entre o indivíduo e a terra. Conseguimos transpor todas as fronteiras (sozinhos ou ajudados pela tecnologia) mas continuamos a acabar o nosso tempo com os pés para a frente. debaixo da Terra.
6 de 10
Sou uma pessoa cuja actividade cultural mais frequente é ouvir musica. Sou na realidade um ouvinte compulsivo de basicamente todos os tipos de sons que qualquer instrumento ou aparelho eletrónico consegue criar. Não consigo no entanto decorar e cantar decentemente mais do que meia dúzia de canções. e mesmo assim...
É talvez uma das minhas maiores frustações, não conseguir produzir uma melodia com a voz. Principalmente porque "quem canta seus males espanta"
5 de 10
Halfway between the Gutter and the Stars - Fatboy Slim
Foi claramente o álbum que me colocou "on track" com este génio da música. Pode-se não gostar do género e de algumas das coisas, mas está lá tudo que constitui grande música. É daqueles que nem se colocam em causa, percebem-se os rumos que tomaram e as escolhas (artísticas-musicais) realizadas. Porque ouvir o Right Here Right Now mixado com o Born Slippy ao vivo, depois de fazer 250 quilómetros de propósito é o que me guia na vida. Na sensação de estar vivo.
4 de 10
Somos para os outros algo mais que o conjunto dos números que acompanham a nossa cara nos documentos de identificação? Mais pessoas podem saber de mim pelos meus números do que propriamente pela minha face, que apesar de banal, ainda é única e singular.
Tal como os meus números de identificação.
sexta-feira, outubro 28, 2005
Parelhas Musicais
No One Knows - Queens of the Stone Age - Songs for the Deaf - 2002
- Divine Comedy - Live at The Palladium - 2004
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quinta-feira, outubro 27, 2005
Adrenaline Rush
Hoje foi um dia difícil, extenuante, cansativo e esgotante de todas as minhas capacidades.
Mas ao mesmo tempo foi dos dias mais importantes da minha vida. mesmo a sério.
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terça-feira, outubro 25, 2005
(Des)Caminhos de Ferro
Voltei a Coimbra.
Voltei a Coimbra de comboio, sozinho para beber um pouco de cultura.
Da ultima vez que lá tinha ido, a única motivação era ver o concerto dos Danças Ocultas, no Teatro Académico Gil Vicente. Assim com o Cândido num bolso e um casaco lá parti de Santa Apolónia. Já não me lembro da viagem de ida preocupado que estava em chegar a horas, mas fiquei extremamente chocado no regresso. Para além do aspecto sórdido da estação de Coimbra - A, os meus companheiros no inter-regional da madrugada eram na sua maioria soldados/recrutas, vulgo feijões verdes.
O aspecto decrépito da composição em que viajei e o tom da conversa fizeram-me recuar cerca de 30 anos, para um Portugal profundo, que ainda existe. Com valores específicos que se mantêm como paradigma do comportamento, porque vivemos no mesmo país mas de certeza que não no mesmo mundo.
Ontem viajei de Alfa-Pendular, atravessei apeadeiros e estações a 200 quilómetros por hora, mas o país continua o mesmo. Pode-se mudar o aspecto exterior de uma sociedade e transportá-la mais rapidamente mas o je ne sais pas quoi continua lá. Nos companheiros de viagem de uma viagem até Coimbra. Nos passageiros deste progresso oco.
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sábado, outubro 22, 2005
Sem Páginas #1
Título - Catch - 22
Autor - Joseph Heller
Edição - Vintage - 1994
Um livro que na capa anuncia "One of the Great Novels of the Century" normalmente é de desconfiar. Mas não, o livro é realmente impressionante.
O ritmo da estória, alucinante, frenético sempre na perseguição que fazemos ás acções das personagens.
As personagens, reais, concretas, completas mas sempre credíveis na acção e no fio narrativo.
Mas para mim o mais importante foi a noção de que é pela acção que o homem se supera. Primeiro são quarenta, depois quarenta e cinco e assim sucessivamente até às oitenta missões que levam ao desepero da personagem principal.
Só porque não faz sentido, não faz mesmo nenhum sentido porquanto assim se criam as opurtunidades de finalmente conseguirem, de o matarem mesmo.
São os limites de cada um (mas especialmente dele) levados ao limite, numa situação limite para todos num tempo em que os limites foram levados ao extremo.
Facilmente se percebe a capacidade da geração que viveu a IIGM mas principalmente a que lhe sucedeu de criar uma nova linguagem e assumir a força tanto do índividuo como do absurdo. Porque para podermos ser "existencialistas" temos de esperar para ver os outros a morrerem á nossa volta sem perceber muito bem porquê. Como eles viram, como eu nem consigo imaginar.
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sexta-feira, outubro 21, 2005
Fenómeno de Vazio Intra-Articular
Está escrito e assinado por um médico, com todas estas letras. Tecnicamente quer dizer que tenho uma bolha de ar no líquido que se encontra na articulação da clavícula esquerda.
No fundo e o mais provável, é ser uma sequela de durante o parto alguém ter decidido partir-me o dito osso.
Passei os primeiros quinze dias da minha vida a chorar. Esse é um facto romântico e bonito, principalmente porque não me lembro de nada.
Mas mais importante é saber que as pessoas devido a esse facto evitaram visitar os meus pais, pelo menos frequentemente. Não sei até que ponto esse facto é importante. Explica no entanto pelo menos metade das minhas disfuncionalidades pessoais e sociais.
Ainda bem que tenho uma desculpa destas, que ninguém minimamente humano consegue recusar, para de vez em quando me passar dos caretos.
Porque sabe muito bem não chorar quando podemos, mas sim quando queremos.
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quinta-feira, outubro 20, 2005
quarta-feira, outubro 19, 2005
Universal Series Bus
Hoje ainda não percebi muito bem porquê, as portas USB do computador deixaram de funcionar. acontece um daqueles esquisitos erros, que os sofridos utilizadores do windows bem conhecem e nos levam ao dezespero.
Uma coisa tão simples, como o standart para a maior parte dos objectos com que presentemente nos enchem os bolsos e esvaziam a carteira deixou de funcionar de um dia para outro.
Não posso ligar os meus brinquedos nem mexer na pen e postar uma simples imagem.
Que ironia, esta de podermos transportar conhecimento, imagems, musica e tudo o mais; mas não poder descarregar, transmitir todo esse manancial.
E o problema é que deve ser uma coisa simples, pois demonstra-nos a engenharia e a informática que o material tem sempre razão. Pois mas isso não me ajudou a conseguir publicar uma imagem que fosse. Não é justo.
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Musica do Dia
Life is Tragic - Infamous Mobb - Soul Assassins Chapter I - 1997
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terça-feira, outubro 18, 2005
Musica do Dia
Building Steam With A Grain Of Salt - DJ Shadow - Endtroducing - 1996
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Descartes e o nosso erro
Gosto de errar, de ser provado que a realidade é exactamente oposta ás minhas convicções e certezas.
Gosto da noção que entre meia duzia de coisas o erro e o reconhecimento da sua inevitabilidade nos tornam totalmente humanos.
Há pouco tempo conseguiram perverter a minha lógica maníaca de cristalizar a imagem que tenho das mulheres com quem tive relações. Na minha infínita sabedoria, esqueci-me que a outra pessoa por mais morta que possa estar para mim, continua a respirar, a pensar, a recordar e quem sabe a lembrar algo que me esforcei por esquecer.
Não será o erro que me seduz, mas sim a sua possibilidade omnipresente. O nosso agir é sempre dominado pela possibilidade de falhar, de não verificar todas as variáveis, de por uma mudança nas estrelas o mundo deixar de ser o que foi desenhado por nós dentro de cada um.
Porque como os Radiohead verbalizam na pureza da voz do vocalista: I Might be Wrong...
Quem sabe se não estou. Devo mesmo estar.
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sábado, outubro 15, 2005
sexta-feira, outubro 14, 2005
Le RER jusqu'a la Mer
Hoje ao fazer a viagem de comboio, lembrei-me das minhas viagens a Paris.
A corrida com o comboio da linha de Sintra, o cruzar das faces que se olham pelos vidros no tédio de uma rotina repetida até à exaustão.
Com casa de família nos suburbios da cidade-luz os largos momentos que passei com eles também são importantes pela viagens de comboio suburbano que era preciso fazer.
Aqueles 25 minutos sozinho olhando as vidas que não eram a minha, foram, ironicamente, uma preparação para este momento presente.
Agora vejo-me no mesmo papel, na mesma rotina apenas ainda não encontrei um grafitti que me renove a paciência em cada viagem. A suprema ironia de pedir uma linha de comboio suburbano que de Paris fosse até ao mar sempre me apaixonou. Sim porque nenhuma linha de comboio chega perto do mar.
Principalmente por o mar ser feminino em francês.
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quinta-feira, outubro 13, 2005
Musica do Dia
Aftermath - Tricky (feat. Martina Topley-Bird) - Maxinquaye - 1995
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Temperatura Exterior
Primeiro nos cacilheiros o único termómetro era o corpo e o sol constante deste Setembro que passou. Com Outubro começou o frio e a chuva.
Nos avisos luminosos do comboio é constantemente anunciado qual a nossa (passageiros) temperatura exterior, algo que partilhamos de um modo imposto pela viagem percorrida. Porque dentro do comboio a temperatura é sempre superior, o aglomerar de corpos a tal obriga.
Mas ainda não vi a indicação da minha temperatura interior, agora que o frio toma conta do meio ambiente que me rodeia. tenho saudades de um verão qualquer
Uma recordação das ultimas imagens do meu inverno passado, o frio interior e exterior que se juntaram para acabar comigo, um daqueles momentos em que nos chove ainda mais em cima do cabelo molhado.
Porque eu não uso chapéu de chuva. por mais chuvadas apanhe.
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quarta-feira, outubro 12, 2005
A Certeza do Acaso
Apenas podemos aceitar que somos regidos por uma teia de acasos.
O nosso espaço e tempo são condicionados de um modo quase poético por um conjunto de acontecimentos que nos fogem ao controlo.
Saber que os mais belos momentos da nossa vida nasceram da conjugação de factores completamente ocasionais e saber aproveitar esses acidentes para ser mais feliz.
Porque depois de morrermos não fica mais nada de nós, apenas a energia e força que deixámos nos outros. o modo como conseguimos surpreender, enriquecer os que nos rodeiam.
por isso sim, "il faut chercher avec le couer" (Petit Prince) até nos tornármos parte permanente deles. dos que também fazem parte de mim.
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Sem Concerto #1
Artista - Niels-Peter Molväer
Local - Grande Auditório Centro Cultural de Belém
Data - 11 de Outubro de 2005
Compensa ser desonesto e esperar que uma sala como o CCB não encha para ir para a plateia não pagando mais do que um segundo balcão. A parte do espetáculo visual não estava muito explicita mas complementava minimamente na criação do ambiente. O som foi muito orgânico, mais corporal do que o submersão em eletrónica poderia supor, sempre num limbo entre o musical instrumental e o musical eletrónico.
E o encore soou a forçado e a frete não recompensado o entusiasmo do público.
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terça-feira, outubro 11, 2005
Musica do Dia
The Touch Of Your Lips - Chet Baker & Doug Raney & Niels-Henning Orsted Pedersen - The Touch Of Your Lips - 1979
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sábado, outubro 08, 2005
O Outro Eu
Fui buscar o título deste post a um livro muito bom do Graham Greene.
Passei hoje o dia a confrontar-me com uma pessoa muito parecida comigo. devido a um conjunto de situações obscuras, viu-se envolvido em situações amorosas complicadas. mas numa análise egoista o que percebi foi o tipo de confusão que provoquei entre os que estão mais perto de mim ainda à pouco tempo. tenho de agradecer (sem ser preciso agradecer) a aqueles que ouvindo de maneira repetitiva as mesmas histórias e os promenores insignificantes me mantiveram a direito no meio da confusão.
porque é verdade que todas as cartas de amor são rídiculas, mas nós ainda somos mais tristes quando estamos doentes de paixão. como eu estive.
mas o tempo cura todos os males, ou talvez não.
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sexta-feira, outubro 07, 2005
Estar doente
Estou a ficar doente.
Começo a ter sintomas múltiplos de diversas origens.
Mas ao contrário do que uma professora minha uma vez disse acerca de outra: "a professora está doente, a professora não é doente". pois.
a nossa saúde qualquer que ela seja está sempre a ser colocada em questão. esperando um autocarro 25 minutos, os aparelhos de ar-condicionado ligados nos transportes públicos, a comida que tragamos ou podemos simplesmente ser atropelados. acho que prefiro esta hipótese.
fica bem morrer hoje mas com saúde de ferro.
Saúde para todos.
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quinta-feira, outubro 06, 2005
Sofrer com a bola
Porquê sofrer com um jogo de futebol?
Depois de acompanhar de um modo muito apaixonado o percurso de uma equipa como o sporting, claramente fica provado que a capacidade de sofrimento é infinita ao homem.
Foram vários os momentos em que todos os bons momentos pareceram ficar para trás mas isso é ultrapassado pelo prazer de entrar naquele estádio. sozinho ou acompanhado.
Poucas vezes foram as que abandonei o sporting, apenas por mortes, aulas obrigatórias ou acasos estranhos.
E nunca mais me vou esquecer que perdi a virgindade no dia de um Sporting-Marítimo.
Porque tudo passa mas o nosso clube é sempre aquele que nos faz sofrer daquela maneira.
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terça-feira, outubro 04, 2005
Musica do Dia
Muzzle - Smashing Pumpkins - Mellon Collie and the Infinite Sadness (Dawn to Dusk) - 1995
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Mercadores da Alma
Somos em última instância os maiores inimigos de nós próprios.
ao nos limitar a respeitar as convenções sociais, que se reflectem em provérbios e lugares comuns como "out of sight out of heart; o tempo cura tudo" entramos no jogo do suficiente.
não é suficiente deixar sobreviver "wasting time; chewing the fat" como em duas musicas diferentes dizem os Radiohead, o eu ferido. se está morto, deixá-lo morto ficar.
assombro os meus fantasmas com a certeza de que os quero matar, matar mesmo até curar com o seu sangue a minha morte.
mas não, ficamos assim, como a Inês de Castro esperando o fim.
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