Partus sequitur ventrum

O fruto, qualquer fruto do nosso ventre é o mais doce. Aqui não há serpente nem àrvore. Apenas uma forte mas linda solidão com o tempo que ficou para trás. Aquela contagem, em anos, em semestres, em mim. O tempo relativo do nosso esforço e o tempo aboluto do esquecimento do homem. Porque o papel arde nos 451 Fahrenheit. E depois nada fica para contar.

Frame a Frame

A História e o Cinema sempre andaram de mãos dadas, desde o The Great Train Robbery passando pelo The Birth of a Nation, os dramas históricos de Sergei Eisenstein e toda a narrativa de filmes de guerra que replicam os acontecimentos. Passando pelo Manchurian Candidate e toda a construção em torno da Guerra Fria (Coreia e Vietnam incluidos). Os Bond's e os filmes de espiões, o pesadelo do holocausto nuclear. Mas agora não chega a recriação ficcionada. Os realizadores querem replicar os acontecimentos. Querem colocar o espectador no meio da acção. Quer seja na segunda guerra mundial, no império maia, etc. As balas, as flechas fazem ricochete nas paredes do cinema mas falta a verdadeira história. Aquela que não é recriação, em que não sabemos o que vai acontecer, em que os sentimentos não intreferem com a percepção porque são eles a realidade. E depois alguém a irá contar. Para os nossos netos.

Sem Páginas #35

Título - Christmas at Stalingrad
Autor - Anthony Beevor
Edição - 2005 - Penguin

O inicio do Fim. Como passar o Natal a uns milhares de quilómetros de casa pode dois anos depois resultar na destruição da Pátria. Porque esses valores não são estanques e evoluem. E assim morreram 50 milhões de pessoas. Porque o ser humano é estúpido e isso não muda mesmo. Mas enquanto as coisas acontecem nós vamos acreditando. Porque sim.

Musica do Dia

Chaga - O Monstro precisa de Amigos - Ornatos Violeta - 1991

Parelhas Musicais

Baba O'Riley - The Who - Who's Next - 1971
Pearl Jam feat. Steve Diggle - Live at The Garden - 2003

Musica do Dia

Já Não Sou Quem Era - Humanos - Humanos ao Vivo - 2006

Triplo Beat

To All the Girls - Beastie Boys - Paul's Boutique - 1989
The Weekend Starts Here - Fatboy Slim - Better Living Through Chemistry - 1996
Who Can You Trust - Morcheeba - Who Can You Trust - 1996

Sem Páginas #34

Título - Berlin - The Downfall 1945
Autor - Anthony Beevor
Edição - 2003 - Penguin

O mais perturbante não é a narração dos factos. Apesar de ser um mestre nessa narração, por vezes estratégica por vezes individual dos pequenos passos que levam à victória. Não é a crueldade dos factos, de como em pouco mais de dois anos o que era certo transformou-se no fim. A victória como momento de tempo e espaço, não como uma realidade ou ideia. A realidade concreta dos tanques a avançarem por aquelas ruas e o fogo a consumir aquelas paredes. Porque a justiça dos vencedores é volátil como o fogo que destrói uma casa. Acaba por ficar tudo em ruinas mas rapidamente se reconstroi uma nova casa e a memória tudo apaga. Novos homens ocupam esse espaço e vivem o seu tempo, mas depois tudo volta ao mesmo e o sofrimento é que é eterno. O que muda são as escalas e os instrumentos porque os sentimentos que guiam a mão do homem são os mesmos à uns bons milhares de anos. Porque mesmo que consigamos apagar o sofrimento da memória individual a dor que fica gravada na memória colectiva é permanente. Irrelevante nas consequências dos nossos actos mas eterna no acto de esculpir os homens.

Entfremdung

Porque o dia só tem 24 horas para todos nós. O Tempo permite construir um mundo em 7 dias mas 7 dias também podem ser imensamente breves. Principalmente quando olhamos para trás e o Dies Dominica já passou e aí vem outro. Assustei-me com a velocidade com que passou 2006 e nem sequer quero pensar neste 2007.

Musica do Dia

Slave to the Wage - Placebo - Once More With Feeling - 2004