Sacramentum

Uma rua não é apenas o seu nome presente, é toda a sua configuração, alinhamento geográfico, ponto de entrada e partida. É estar no meio, no seu centro e descobrir o seu fim, é saber que depois da esquina está o vento. Mas também perceber ao fim deste tempo todo, o que faz um sagrado sacramento da eucarístia em azulejo do século XVIII, porque esta rua já foi do sacramento. A minha saída de casa marca no fundo esse sacramento, a passagem de um baptizado para um crente. Ainda não sei bem do quê mas um crente que partiu para outras paragens.

Parelhas Musicais

Tequila Sunrise - The Eagles - Desperado - 1973
Cypress Hill - IV - 1998

I do

Já (só) passou um ano e poucas coisas ficaram na mesma. É importante estas efemérides para nos lembrarmos do quão pequeninos somos no grand scheme of things.

Sem Páginas #38

Título - Ritmo & Poesia Os Caminhos do Rap
Autores - António Concorda Contador / Emanuel Lemos Ferreira
Edição - 1997 - Assirio & Alvim

O livro que eu não li em 1997. Normalmente os livros com prazo de validade perdem o interesse mas quando a radiografia a um momento específico da realidade é construida de fora para dentro. Uma cronologia que avança desde os sessenta até à actualidade (1997) num esquadrinhar de sons, mensagens, imagens. É interessante verificar o que despontava em 1995/97, todas as novidades que hojem são os gurus; todas as estrelas que hoje são os esquecido. Depois dá-se o salto para Portugal, uma radiografia de personagens e hoje dez anos depois trona-se importante o "estudo" daquelas caras. Ver quem sobreviveu à voragem do tempo que tudo consome.

Pluralis Majestatis

Quem somos nós? Filhos deste país que nos faz manter o passo. Correr atrás da Bula, correr atrás do que nos tornámos nos últimos 33 anos. Nós que ainda não somos nada, o eléctrico já não vai ao Carmo, já não nos podemos empoleirar nas árvores e pedir um sangue que ninguem nos vai dar. Sempre me interroguei acerca do que aconteceu depois da partida da chaimite. Hoje ao percorrer o Largo do Carmo percebo, as pessoas foram para casa.

Musica do Dia

Cuarras - Sam The Kid - Sobretudo - 2001

Sem Páginas #37

Título - The Man in the High Castle
Autor - Phillip K. Dick
Edição - Penguin - 2003

O ponto de partida é não haver ponto de partida. Não há explicações, apenas factos, situações, casualidades que não são postas em causa. Vivem(os) a Realidade sem nos interrogarmos porquê. Sem percebermos bem como chegámos aqui. E no entanto a Viagem não tem fim. Vamos perseguindo os objectivos procurando que a realidade choque com os nosso desejos. Procurando colidir a imagem com a forma, procurando a razão das coisas serem assim, de nós sermos assim. Porque depois de as coisas começarem a andar torna-se díficil aplicar um qualquer travão. As coisas são como são e as viagens sem destino apenas nos levam mais longe do que realmente precisamos.

To Have or not To Have

"Don't you feel it?" he kidded her. "The historicity?"
She said, "what is" "historicity"?"
"When a thing has history in it. (...) One has historicity, a hell of a lot of it. As much as any object ever had, And one has nothing. Can you feel it?" (...) "You can't. You can't tell wich is wich. There's no "mystical plasmic presence", no aura around it."

The Man in the High Castle - Phillip K. Dick

Cover Image

Parelhas Estrelares

Star 69 - REM - Monster - 1994
Star 69 - Fatboy Slim - Halfway Between the Gutter and the Stars - 2000

6 centos

Porque todas as figurações numéricas fazem sentido mas estes últimos cem post's têm sido mais dificeis, sem a opurtunidade antiga e ao mesmo tempo mais completos. Marcam a continuidade da ideia, apesar de tudo o que se passa.

Espaço & Tempo

Aberto à sua totalidade, encontra-se no seu espaço. Ele não entra na Cidade, entra no Espaço que é o nosso. O Espaço em que nos perdemos no Tempo imutável. O Tempo em que perdemos a noção do que somos. Corremos e não nos encontramos naquele momento em que alguém proclama Eis o Homem.

Musica do Dia

There Is A Light That Never Goes Out - The Divine Comedy (The Smiths Cover) - The Smiths Is Dead - 1996

Via Crucis

Quantas estações terá a minha via sacra. O numero canónico são 14 mas pelo aspecto da minha life line não serão tantas. Talvez já tenha passado por umas sem sequer perceber isso, qual auto-flagelação do supremo suicida. Não há paixão que sobreviva a uma partida do nosso futuro, aquele momento de arrependimento, em que preguntamos ao Outro "porque me abandonaste".

Parelhas Angelicais

Les Anges Exterminateurs - Jean-Claude Brisseau - 2006
Charlie's Angels - Joseph "McG" McGinty Nichol - 2000

Sem Páginas #36

Título - If not now, when?
Autor - Primo Levi
Edição - Abacus - 1998

Apenas o percurso. O desespero de viver o presente porque se não for agora, quando é que será. O concretizar, o vencer, o perder. O absurdo da destruição, mas também o absurdo dos dogmas, quaisquer que eles sejam, a necessidade de ultrapassar tudo o que nos prende ao passado, esse passado que nos construiu mas que nos mantêm presos, estáticos e presos ao tempo. O que interessa são os que sobrevivem os únicos que partilham o nosso destino. Porque os mortos ficaram enterrados lá atrás nesse espaço e tempo que só guardamos nas recordações da guerra (de todos os dias).

corrigenda

Tenho que me convencer que o problema não é o erro. É a consciência do erro e não fazer nada para o corrigir. Por mais medo que me assole e tolde os movimentos não posso ficar de braços cruzados. Quero ficar, bem quieto no meu canto. Mas não posso, porque mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo. E nestes casos o senso comum é mesmo a melhore medida.