Frames de Carne
Talvez o único aspecto que me desiludio na leitura de "A náusea" foi o modo como se desenvolveu a personagem do Autodidacta. Preso em algo que não se percebe muito bem o consegue manter na normalidade, finaliza-se a personagem num desvio de pecado. O carácter poético do humanismo deste desiludido da vida é traído pela sua fraqueza, pela fraqueza da carne.
Mas é nos filmes que mais se sofre com a muleta do desvio, do pecado, da facilidade que a carne, qual deus ex machina entra na narrativa.
Talvez o exemplo menos subtil seja a parte final do Ken Park (Larry Clark - 2002) em que o pathos une as três personagens numa orgia de carne, sem sentido? com propósito? muito longe da cena de violação com que finaliza o Kids (Larry Clark - 1995) esse sim um verdadeiro final dramático.
Mas também encontrei recentemente um exemplo de preconceito bacoco nos Edukadores (Hans Weingartner - 2004), quando o revolucionário feito burguês que se encontra aprisionado conta o seu passado. Os sonhos que a comunidade (6 pessoas) partilhavam e que ele revê, agora do outro lado da barricada. Mas rísivel é o modo como ele descreve as diversas relações afectivas entre eles: as mulheres rodaram a todos os homens e entre si, mas os homens não. Afinal a geração era a favor da liberdade e da revolta mas levar no rabo é que não. Porque os pais podiam não gostar.
Vindo de uma geração que perdeu a virgindade com as prostitutas "amigas" do pai poderá rapidamente desconstruir-se a imagem que nos querem vender da pureza dos anos 60. E nem é preciso olhar para eles agora sentados nos BM's e Mercedes e elas encharcadas em drogas farmacêuticas.
Etiquetas: pipo
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