pipo69

Um blogue que acompanha um novo percurso múltiplo de diversas dimensões anónimo, indolor, incolor

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Part I

Noite – bombeiros, policias e táxis. Apenas um burburinho dos pés na água. O frio e a água numa passagem para Penn St. Depois o sol, o caminhar ao vento e perceber as diferenças, os gorros, os protectores de orelhas, aqueles acessórios tão (a)estéticos. Caminho para lá, passo pelo grande buraco sem perceber. Mas depois paro e vejo que não é como no cinema. Há mesmo alguma pena, não pelo símbolo mas pelo quotidiano. Não é esse que fica para a História – realidade amoral – mas é esse que sofre as agruras de um tempo real. 2001 – Ano novo para todos nós deste lado.
Os pathways são percursos de esquecimento, permitem isolar o Homem do espaço que o rodeia, despir numa parede de ferro pintado todo o significado do que nos rodeia [ou rodeou]. São também percursos indolores pois permitem franquear certas fronteiras simbólicas pelo ar, sem tocar, sem sentir, sem cheirar os corpos mortos que ocupam “também” aquele espaço. Porque acima de tudo o que os vivos fazem é ocupar esse espaço físico do seu quotidiano com um conjunto de memórias construídas não do quotidiano mas sim de imagens desse quotidiano.
Ao avançar no ferry para uma liberdade de ferro e cobre, farol incapaz de iluminar as suas próprias trevas e saltar da sua própria sombra para o purgatório do sucesso, de uma entrada no paraíso terrestre, o paternalismo evidente da cultura carismática que sempre guiou esta nação. Podem vir mas só enquanto quisermos, projecto apocalíptico de eden terrestre, de ilusão (a)histórica do destino humano concretizado numa nova realidade [imaginária].
Mas depois os vícios são os mesmos mimetados de um passado sonhado, quotidianos amarrados a uma aldeia italiana, uma cottage inglesa, um pogrom judeu como mítica fundadora. Que tipo de realidade nasce de grupos sociais que se deslocam para fugir? As sociedades do Novo Mundo são em si reportórios imagéticos das suas antecessoras, diluídas num confronto diário com o quotidiano. Só assim se justifica como os ghettos são o pior de dois mundos e que as suas manifestações sejam as mais originais.

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